sexta-feira, 28 de agosto de 2009

O Bêbado

Era uma bela tarde de domingo, bela demais, o sol brilhava, escaldante, torrando o cérebro de todo e qualquer indivíduo que, abusado, o desafiasse, abandonando o conchego de uma sombra qualquer. Principalmente após aquela doce e refrescante cervejinha.
Acontece que o sujeito que vinha dobrando a esquina da minha casa estava mais pra lá do que pré cá. Em total embriaguez. Mamado ao extremo. Zigue-zagueava aos tropeços em suas passadas inconstantes, aproveitando sempre ao máximo os limites da calçada, que atingia quase dois metros de largura. Como se não bastasse o indivíduo cantarolava “Eu me amarrei” em uma voz rouca e arrastada, contrastando um ritmo lento de desafinado.
A situação não era nada favorável: O sujeito estava todo suado e a camiseta listrada permanecia grudada em seu corpo fedendo a trago, com enfoque na barriguinha, que provavelmente surgira em razão ao permanente estado alcoólico. Ele já alcançava a altura da minha casa, caminhava o mais rapidamente que o equilíbrio que ainda tinha, o permitia. Chegava a ser triste.
Mais adiante, quando já passava pela minha casa, escorou-se em um poste de luz, apresentando aparente cansaço pelo esforço causado pela falta de equilíbrio. Olhou para o céu e mumurrou algumas palavras, como se conversando com o sol, que permanecia impiedosamente firme e forte. Muito forte. O fétido homem tornou a baixar a cabeça e retomando a cantiga, voltou a sua triste e solitária rota, possivelmente em busca de sua casa, até o ponto onde com auxílio do semáfaro, onde pendurou-se, conseguiu dobrar outra esquina, fugindo, então, do alcance dos meus olhos.

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